O excelente artigo do Cmdte. Dario Artilheiro, um Aviador Militar e Comercial, publicado na Take Off Sirius N. 192, intitulado “Montijo, ou não Montijo Não é a questão, a questão é: c’est l avie au Portugal...”, leva-nos a uma profunda reflexão sobre a forma de fazer política em Portugal, não apenas no momento presente, mas desde há muitas décadas,
Parece que o meio termo, o equilíbrio, aquilo que pode parecer o mais fácil de alcançar, se afigura como algo fugido ou tangencial, uma vez que parece ser nos extremos que muitos dos nossos políticos encontram forma de articular a política. Esta é uma forma arriscada de “praticar” democracia, pois leva ao fenómeno cada vez mais presente um pouco por todo o mundo dito democrático: crescimento (assustador) de votos entregues nas urnas aos partidos extremistas, quer de direita, quer de esquerda.
Em Portugal, há poucos anos atrás, o extremo foi atingido com as discussões sobre novo Aeroporto Internacional de Lisboa, centradas essencialmente sobre a opção entre a Ota e Alcochete. Fizeram-se todos os estudos que devem ser feitos, mas a discussão tendeu para o infinito e a célebre expressão “jamais” passou a profecia. Em Espanha, Inglaterra, França, Holanda, etc., construíram-se ou ampliaram-se Aeroportos que são autênticas cidades, as pistas cresceram quase exponencialmente, e em Portugal ficamos com fantásticos estudos na gaveta, pensando nós, qual consolo à portuguesa, que ao menos serviriam logo que possível.
Só que, recentemente passou-se dos estudos prolongados e discussões infinitas para o “mandar fazer” com pouco ou nada se estudar, actuando porque uns iluminados dizem que é assim porque assim é. Na sequência de tal, surge então a ideia do “Portela + 1” (até parece matemática, bonito toque...), também conhecido por “Montijo como aeroporto complementar de Lisboa”.
Como se não bastasse, este fenómeno serve genialmente para se tentar encerrar a pista 35/17 de Lisboa, uma vez que a intenção é fazer do Aeroporto Humberto Delgado um “parque de estacionamento de aviões”, pois dizem que há que fazer deste Aeroporto um verdadeiro hub, não obstante o facto de, no que respeita a passageiros em trânsito por Lisboa, que constituem menos de 20% do movimento total do nosso Aeroporto, a capacidade de hub só se deverá esgotar lá para 2030! Fantástico, pois agora pensa-se muito à frente... Mas, como sempre, há que saber ler os estudos e o Aeroporto de Lisboa irá esgotar-se por falta de pistas e de caminhos de saída e acesso a estas, muito antes de se esgotar por outras componentes. Decide-se então o quê Acabar com uma das duas pistas do Aeroporto de Lisboa. Mas não nos assustemos, pois o Montijo será um complemento, com um Rio pelo meio...
Claro que os passageiros que venham lá da Europa, ou do outro lado do mundo, irão escolher o nosso Aeroporto como hub, pois o que mais querem é ter o bilhete de barco incluído na compra do bilhete de avião, algo que irá elevar ao rubro a disposição destes passageiros quando, para além das irregularidades inerentes ao Transporte Aéreo, se depararem com as irregularidades afectas ao Transporte Marítimo!
Na onda do “mandar fazer” porque é assim e porque assim é, surge também a ideia de se encerrar o GPIAA – Gabinete de Prevenção e de Investigação de Acidentes com Aeronaves, sem se acautelar o documento 996/2010. Entrega-se interinamente o destino do GPIAA ao Director do GISAF, que se passou a denominar GPIAAF - Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários, que de questões ferroviárias muito deverá entender, residindo o problema no facto das aeronaves gozarem de maior liberdade de movimento do que os carris proporcionam. Mas o que interessa a regulamentação Europeia, que interessa as qualificações e a experiência aeronáutica do Director interino do GPIAAF, quando se “manda fazer” porque é assim porque assim é
Mas, o que verdadeiramente deve preocupar os Pilotos, no meio de todo este singelo e absoluto “mandar fazer”, é a Segurança de Voo, preocupação esta que aumenta a cada dia, pois entende-se que o Transporte Aéreo em Portugal passou a estar na moda, não obstante a inexistência de uma verdadeira política para esta tão importante actividade, se bem que a política agora usada acaba por não necessitar de uma política pré-concebida, porque, ao que parece, basta “mandar fazer”. Porquê Porque é assim porque assim é!
Nesta que é a terceira edição do novo projecto que agora junta a Sirius e o Take Off, muitas são as novidades que partilhamos com os nossos Estimados Leitores. A começar pela homenagem a Cristiano Ronaldo, que vê agora o seu nome associado ao Aeroporto da Madeira, o tema em destaque desta edição. Pese embora esta decisão não tenha reunido consensos, pois em termos aeronáuticos o nome do Alferes Lello Portela, por exemplo, faria eventualmente mais sentido, por se tratar de um Homem de excepcional devoção à Pátria, pela qual combateu inclusivamente sob o estatuto de voluntário, tendo sido o último Aviador Português a regressar ao nosso País por altura da Primeira Guerra Mundial. A verdade é que outros valores se ergueram, e o Aeroporto da Madeira é hoje Aeroporto da Madeira – Cristiano Ronaldo, uma opção que entendemos, a bem do turismo da região, e à qual desejamos as melhores venturas, assim como para a infra-estrutura e para a Ilha da Madeira.
Na Sirius Take Off de Março, para além de ficar a par de algumas notícias que marcam a actualidade da Aviação, o Leitor tem ainda a oportunidade de se inteirar dos argumentos, especialmente contra a construção de um Aeroporto para uso Civil, no Montijo, servindo este como complemento ao Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, parecendo que os considerandos a favor, apresentados essencialmente pelo Governo, já foram largamente expostos.
A não perder temos ainda a excelente reportagem do nosso Colaborador no estrangeiro, Paulo Mata, que nesta edição nos relata, a par e passo, o Exercício Frisian Flag 2017, não faltando as excelentes fotografias, que muitas vezes dizem mais do que mil palavras. Juntam-se a estas reportagens o revelar do primeiro A330 da TAP com cabine renovada, com a explicação das principais diferenças que podem ser encontradas agora a bordo deste avião e dos demais A330 que futuramente serão alvo de modificações semelhantes. Acompanhamos ainda, nesta Sirius Take Off, a proibição que os EUA levantaram aos aparelhos electrónicos nos aviões, com a garantia de mantermos os nossos Leitores informados, nas próximas edições da revista, sobre a evolução desta questão. Para que possa estar sempre a par de todas as novidades em Aviação, acompanhe a Sirius Take Off/Take Off Sirius!
A Profissão de Piloto Comercial é das mais invejadas. Porquês não faltam…
A propósito desta questão poderemos, e até talvez devêssemos, reflectir um pouco nas motivações que terão levado Rute Sousa Vasco e Fernando Neves de Almeida a escrever o livro “A Sorte Dá Muito Trabalho”.
É sobejamente sabido que muitas Pessoas são alvo de inveja, quer por motivos intelectuais, materiais, profissionais, ou outros, e a Classe dos Aviadores, essencialmente da Aviação Comercial, não é imune a este sentimento, que pese embora não seja, felizmente, generalizado, acaba por influenciar, infelizmente, algumas pessoas, notando-se mais quando tal é incutido a quem tem o poder de decidir em determinada esfera. Naturalmente que as consequências advindas de tal não são positivas, nem poderiam, aliás, e têm maior ou menor repercussão consoante o âmbito e a dimensão que alcançam. Escusando-nos a identificar situações, até porque o espaço para tal seria, lamentavelmente, insuficiente, a questão que se coloca é: Por que motivo terão os Pilotos Comerciais tão cobiçada profissão Será pelo facto de não poderem ter planeamentos a longo prazo, já que as escalas das companhias são definidas, regra geral, mensalmente Será antes pelo facto de não poderem gozar do horário noturno, como a maioria dos comuns mortais, para descansar, já que fazem serviços de voo, muitas vezes, nesse período Ou será antes por estarem sujeitos a constantes jet lag, alterações climáticas e de alimentação, entre outros Talvez não seja bem por estes motivos que os Pilotos Comerciais, que têm a nobre Missão de transportar pessoas e bens em segurança de A para B, são alvo de inveja, mas apenas, regra geral, pelo rendimento que auferem mensalmente. Desenganem-se, por isso, os que só tiverem esta questão por base, pois o Estado Português, por exemplo, chega a receber, do rendimento mensal que é pago a muitos Pilotos Comerciais, tanto ou mais do que estes… Não deveria, por isso, tão pouco nobre sentimento ser redireccionado para o Estado, por exemplo Este é um pensamento que Vos deixamos, na expectativa de que resultados positivos dele possam advir.